13 de fevereiro de 2009

Escrever

Escrever, para quem gosta de o fazer, tem um quê de sagrado. Mesmo para quem escreve por obrigações de profissão. Eu por exemplo gosto de escrever porque sim. Tenho que me fechar em mim para escrever, isto cientificamente falando. Enquanto escrevo respiro fundo muitas vezes, como se das entranhas profundas pudessem sair orientações para a inspiração. Isto porque quando se escreve pela obrigação profissional, em algumas alturas do percurso escreve-se muito, durante muito tempo, arrumam-se ideias nas palavras arquivadas em capítulos que obedecem ao rigor de um índice que nos martela a cabeça durante muito tempo. Escrever, para mim, não implica grandes e profundas reflexões intimistas ou filosóficas. É escrever de assuntos que me dizem, para que outros leiam, se precisarem. Tudo isto porque tenho vindo a descobrir que perdi a vontade de escrever mas a obrigação trouxe de volta o tal quê de sagrado. Afinal ainda gosto de escrever. Por gosto, tentando por de lado a obrigação.

3 comentários:

Baco disse...

Escrever é uma interacção consigo próprio, um colloquium cum anima sua, e como tal é sagrado e não um tempo profano. É um coagula no qual o sublimado espiritual se condensa no colo da retorta na materia fixa da letra, que se opõe ao espírito e o transfixa e mata, retirando-lhe a volatilidade mercurial.

É uma altura e atitude em que se ouvem os deuses, anjos e demónios que nos acompanham. É materializar os espíritos, uma operação sem a qual eles não são visíveis nem úteis.

Baco disse...

Ocorreu-me também que, nunca metáfora mais moderna, é semelhante ao radio-amadorismo (ai o hífen!). Talvez porque durante muitos anos fiz um diário de sonhos.

Ana Paula Sena disse...

Ainda bem, Ouriço! :)

É óptimo que escrevas. Acho que escreves bem. De uma forma límpida.

Bjs