30 de julho de 2012

Não há de ser maior

Estou numa nau rumo a um destino. A viagem faz-se de anseios. À tempestade segue-se a calmaria. O mar muda as cores. O céu insurge-se, ora furioso, ora apaziguador. Parece uma guerra de armas modernas que não se coaduna com o tempo ao qual pertence a minha nau. Nesta há um físico, douto e seguro, que enumera raízes e outras mezinhas, que podem levar-me bom porto. Faço paragens para abastecimento, durmo, rio, choro, penso muito e vejo que o mar e o céu já têm outras cores. Cheguei há dias a Ceuta, passei mal mas prossigo viagem. Não estou sozinha. Levo os meus. Os meus preciosos meus. São a âncora da nau e de mim. Vou fazer paragens, vou passar mal. Hei-de dobrar as Tormentas e hei-de olhar nos olhos o velho Adamastor. Ele há-de rodar várias vezes, mais de três mas venha ele e o que vier, como em Pessoa, não há-de ser maior que a minha alma.