7 de julho de 2011

A fé? É isto.

"Tem sido bom viver estes tempos felizes e difíceis, porque uma vida boa não é uma boa vida. Estou agora num combate mais pessoal, contra um inimigo subtil, silencioso, traiçoeiro. Neste combate conto com a ciência dos homens e com a graça de Deus, Pai de nós todos, para não ter medo. E também com a família e com os amigos. Esperando o pior, mas confiando no melhor. Seja qual for o desfecho, como o Senhor é meu pastor, nada me faltará."

Maria José Nogueira Pinto, "Nada me faltará", Diário de Notícias.

5 comentários:

Baco disse...

Pessoalmente, acho sempre curioso esta forma USAna de glorificar certas situações. Como, por exemplo, dizer que os jogadores de basebol são génios que resolvem equações diferenciais de segundo grau de cabeça em dois segundos só para acertar na bola. Neste caso, o jogador é uma variante do Chinese Room (Quarto do Chinês): faz, como um relógio "diz" as horas, mas não sabe.

Assim suspeito que chamar combate é amável, mas na realidade o que temos é um pathos, uma via sem alternativas desde o início e com um desfecho inexorável e conhecido.

Também é digno, no Xadrez, desistir. Não por capricho de miúdo, mas porque reconhecemos o desfecho inexorável do jogo e a superioridade absoluta do adversário frente ao nosso melhor. Não é por dá cá aquela palha.

A minha relação com D leva-me a pensar que, a certo ponto, ele me disse que eu devia continuar por mim próprio, e apenas por mim próprio, sem ligar ao que dele se diz; mas que ele estaria sempre lá quando eu estivesse no fim das minhas possibilidades, mas só mesmo no fim. Já esteve.

Espero que não me levem a mal por dizer coisas que podem ser inadequadas aos sentimentos apropriados à ocasião. Não posso ser outra coisa. Sou aquilo que sou.

Ouriço disse...

Caro Baco,

Não levo nada a mal, muito pelo contrario pois que a inteligência e a análise "baquiana" é sempre boa de ler.

Não se trata, esta citação, da morte da pessoa, trata-se do texto, bonito e do seu sentido, o da despedida. Trata-se, para mim, da análise da força da fé. É que eu tenho-a mas por algumas vezes a perdi ou por algumas vezes, para mim, ela se desvaneceu e se calhar aconteceu lá, onde se esgotaram as possibilidades. Talvez por isso a minha perspectiva seja menos inteligente.

Julgar que o fim se aproxima e que há no sentido bíblico um pastor que evita que alguma coisa falte, é para mim o sentido da fé e para a autora também. Porque ela acreditava que para além disto há mais e essa era a sua fé.

O sentido da aproximação do fim deve ser indescritível, talvez um médico esteja melhor preparado para encarar o problema. Conhece a doença e a sua palavra final. O problema do fim talvez seja a dor que esse fim trará a quem cá fica e um texto (vale a pena ler todo) pareceu me tocante.

Por fim, uma boa vida não pode ser uma vida boa. Concordo. Se isto fosse fácil, não tinha graça....

Baco disse...

O texto é bonito, e bom. Só fiquei nervoso com a escolha da palavra "combate", que se me atravessou.

O verso do salmo, repeti-o muitas vezes em tempos de escuridão.

Tendo tido a oportunidade de pensar nisso (um bom místico deve meditar na morte para aproveitar melhor a vida) concluí que não tenho medo da morte, mas tenho do (processo de) morrer. O pathos. Mas, como se diz, seja o que D quiser, vou fazer por honrar o Jogo.

Acredito que se pode ter uma boa vida que também é uma vida boa. Afinal, os hedonistas também tem moral! Quem tem muito tem de dar mais. Mas isso fica para as minhas filosofias, ali ao lado. (Também acredito que se pode ter uma vida má que é uma má vida, ao estilo feios, porcos e maus.)

Ouriço disse...

Baco, caro amigo
Ou
Bacus, carus amigus

Hoje estou pela filosofia. Tivesse eu seguido kant, como pensei e o meu destino tinha sido outro (ou não). Eu por exemplo (e D me proteja desse inimigo, para não lhe chamar combate) prefiro ter fe racional em Deus, tomara eu não ter que lidar com a falta de fe que tenho naqueles idiotas que me rodeiam. E por idiotas leiam-se aqueles cujo nome não podemos dizer, os tais, tao pobres de espirito, os tais bem aventurados. Um outro uso para a biblia.

Menina Marota disse...

Li e reli...
... e... gostei sobretudo de..."...E por idiotas leiam-se aqueles cujo nome não podemos dizer, os tais, tao pobres de espirito, os tais bem aventurados. Um outro uso para a biblia."