25 de dezembro de 2007

De, para.

Das coisas que ando a aprender com Saramago e de outras coisas mais. Dedicado. De, para.

"Há muitos modos de juntar um homem e uma mulher, mas, não sendo isto inventário nem vademeco de casamentar, fiquem registados apenas dois deles, e o primeiro é estarem ele e ela perto um do outro, nei sei se te conheço, num auto-de-fé, da banda de fora, claro está, a ver passar os peninentes, e de repente volta-se a mulher para o homem e pergunta, Que nome é o seu, não foi inspiração divina, não perguntou por vontade própria, foi ordem que lhe veio da própria mãe, a que ia na procissão, a que tinha visões, e revelações, e se, como diz o Santo Ofício, as fingia, não fingiu estas, não, que bem viu e se lhe revelou ser este soldado maneta o homem que haveria de ser de sua filha, e desta maneira os juntou. Outro modo é estarem ele e ela longe um do outro, nem te sei nem te conheço, cada qual em sua corte, ele Lisboa, ela Viena, ele dezanove anos, ela vinte e cinco, e casaram-nos por procuração uns tantos embaixadores, viram-se primeiro os noivos em retratos favorecidos (...)."

José Saramago, Memorial do Convento.

3 comentários:

Ele disse...

E o que se comenta a esta transcrição? :-)

Ouriço disse...

Que ainda há quem tenha visões, revelações, intuições? Ou sorte? Mesmo já não havendo Inquisição ou casamentos da reais por correspondência, mesmo não vivendo nós dentro de um romance?

Ouriço disse...

leia-se casamentos reais