Lá disse aqui o marinheiro no inicio da viagem que a coisa se faria da conjugação de tempestades com dias solarengos. Agora temos tempestade, não porque lá de cima da gávea o físico não tenha boas notícias mas porque a viagem per si se reveste de dificuldades. O monstro Adamastor combate-se com a força física mas também com a energia do intelecto e este nem sempre está pelos ajustes. A viagem é impiedosa a vários níveis, só a conhecem os marinheiros que a fizeram. Mais ninguém. A viagem tem linguagem própria, piadas próprias, códigos próprios. Os outros marinheiros das outras naus da armada não podem compreender o que para eles não é compreensivel. Não podem e ainda bem para eles. As mezinhas comem memória, destreza, auto estima e muitas outras coisas mas como este diário de bordo é meu, também me compete registar que nem sempre a viagem tem ânimo. Para que um dia se apague das palavras como não se há de apagar das memórias, da minha e da dos meus.
24 de outubro de 2012
15 de outubro de 2012
5
Contar as paragens na viagem é exactamente como riscar os dias na parede da prisão.
Hoje, 5 paragens, 3 meses e 3 dias de viagem.
Hoje, 5 paragens, 3 meses e 3 dias de viagem.
13 de outubro de 2012
A vida vista ao contrário
Implica gargalhar perante uma conversa de café na qual uma transeunte diz a outra "que horrrror estou doentíssima sabes lá, estou com uma enxaqueca enorme". Ah! Enxaqueca. Venha ela.
8 de outubro de 2012
Diário de bordo
Há dias o físico (douto e seguro conforme já o descrevi) entusiasmou-se, subiu à gávea qual figura camoniana e disse que a epidemia diminuiu a força, as raízes têm tido bons efeitos na marinhagem. Nunca se sabe o que aparece na próxima paragem mas há alguma alegria na nau. A viagem continua árdua, é a mais dura de todas as viagens. Corre a noticia que o Cabo das Tormentas está quase aí, o Adamastor não parece tão assustador mas grita o físico que afinal a nau vai mais longe, o caminho vai bem para lá do Adamastor e a epidemia precisa de vigilância atenta. A tripulação continua firme e tem elementos valiosos no esforço de chegar a bom porto.
7 de outubro de 2012
Coisas boas
"A tia tem mesmo graça. É que ninguém pode dizer que está doente, é incrível."
(Conversa de sobrinho e tia, na companhia do Tejo e aguardando a chegada de um bife)
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