26 de novembro de 2012

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O físico entende que para eu continuar a travessia, preciso de tomar as suas raízes esmigalhadas no almofariz e bem misturadas com água. São muito azedas e custam muito a engolir. Estão armazenadas num recanto da botica da nau, que é uma mala grande. Estão bem guardadas numa caixa pequena e trancada. Só o físico tem essa chave, a da botica propriamente dita está também na posse do barbeiro, para o caso de acontecer ao primeiro algum imponderável. Se acontecer, não acedo às ditas raízes mas elas são muito raras, têm que durar toda a viagem, principalmente para os marinheiros mais atingidos, nos quais eu me incluo. Ninguém lhes mexe. Melhoram a epidemia. Aligeiram-na. Misturam-se com o sal do mar, com o movimento das ondas, com os vapores da epidemia e com os humores da tripulação. Por isso dificultam a travessia. A vela assegura o bom caminho, obedece ao vento. O físico é a divindade viva da nau. Não tem medo do monstro das Tormentas, conhece-lhe bem as manhas.

1 comentário:

Ana disse...

Um beijinho minha querida...